domingo, julho 22, 2007

madure


"Não sei dizer o que sinto". Essa frase era tão recorrente no seu vocabulário que quase não sabia dizer outra coisa quando pressionado. Foi a última coisa que disse quando foi vê-la na última folga. E por mais que seus olhos enchessem d'água não derramou uma única gota. Ela não pôde fazer nada além de deixa-lo ir sem nem mesmo discutir aquilo tudo. A porta se fechou e estava pro mundo novamente. E seria mais fácil se ele soubesse o que sentia, mas não estava mentindo, a mente num rebuliço e a pessoa totalmente sem rumo.

Quando jovem sabia que o mundo era tão grande e de tão grande teria muita coisa pra fazer durante toda vida, já que sairia por aí viajando e conhecendo tudo. Tinha seus vinte e pouco anos e já sabia de muita coisa. Era valente e sabia como lidar com as adversidades. Tudo quanto fosse problema ele sabia como resolver. Aspirinas na mochila, um pouco de uísque e pé na estrada. Tinha dias porém que aquele fervor todo baixava o faixo e como de clarão o vazio vinha forte e impiedoso. Noites em claro. Sonhos conturbados. Vazio. O que fizera da vida até ali num tinha trago ainda a satisfação de viver por viver. E o que devia fazer ele não sabia. Tamanha energia e valentia não lhe serviam de nada agora. Completamente solto no ar. Completamente só.

Se lembrou então um dia das coisas que deixou para trás. Um quarto bagunçado, um pai ranzinza, uma bike manca, livros e partituras e algo do qual nunca se esqueceria, ela. E era por ela que não dormia. Ou era isso que entendia. Entretanto, e como que por encanto, percebeu como a vida o via. E amarrado no emaranhado do amadurecimento se encontrou. Responsabilidades, dinheiro, jogos de interesse. A juventude por onde andara?! Se esvaía. Por aquele buraquinho chamado tempo...

Realmente não sabia o que sentia. Ou talvez não sabia o que fazer da vida. Ou era a vida que fazia dele o que queria. Com o coração na mão respirou fundo. Os pés gelados não o impediriam. Cento e oitenta graus e a campainha. Um novo rumo e pronto, se encontrou no que sentia.

d*_*b .: Seal_"you ar my kind" [in seal's winamp set list]

5 comentários:

Maria Renata disse...

Simplesmente fantástico! Adorei o desfecho.
beijos!

Amanda Beatriz disse...

lindo! perfeito! deu uma saudade de algo que não sei o que é...
beijos!

Anônimo disse...

Oiii, obrigada pela visita e pelo comentario no blog. Adorei seu post, voltarei mais vezes com certeza! ;)
Bjss

Carlos Howes disse...

Gostei muito do teu texto. Me fez refletir.

Anônimo disse...

Freud explica; terapia nele! Parabéns, invejo a sua disposição para escrever com tanta frequência. Dá 1 passada lá no meu mais tarde.
Abraço.