quinta-feira, dezembro 28, 2006

sorrir

os dentes pra quê servem?
mastigar? mostrar? encher aboca?
sorrir!...

uhm...
é como comer rabanada ... abanar o rabo...
chupar picolé ... ronronar...


sentir-se bem é coisa pouca sem brincar.

rir...
brincadeira é coisa séria, já brincou hoje?

doutores da alegria - o filme

domingo, dezembro 17, 2006

trip on net



Bobby Mcferrin improvisation with Richard Bona

quarta-feira, dezembro 13, 2006

all is full of love

No ônibus, uma garotinha estava em pé no corredor ao lado da cadeira que sua mãe estava sentada segurando a outra filha, ainda bebê, no colo. Não sei, 5 ou 6 anos no máximo. O rosto era inesprecivo e caído, como se aquilo fosse uma amarga rotina. Olhava para os lados sem rumo e às vezes pro consolo materno. A mãe só se preocupava com a vista da janela do veículo. Estavam separadas por um homem largo e alto.
O ar condicionado estava muito forte e eu sentia meus pés gelados entre os chinelos. Minha cabeça doía ao mínimos movimentos e o barulho do motor fazia piorar. Entre abrir e fechar meus olhos via a cena desfigurada. O pescoço doía pela noite mal dormida e sem jeito do banco.
O olho abre e algo incomoda. Uma pequena de olhar desamparado posta-se no meio do corredor segurando nos canos amarelos aos balanços da máquina. Não conseguem enxerga-la confusa em meio a tanto despreso. As demais pessoas do ônibus. Selvagerismo individual. Estudantes, assalariados, aposentados, donas de casa indo e vindo e tão invisível.
Meu lugar, tão temporário, não vale a pena se tiver de enxergar aquelas perninhas doerem de ficar em pé. Me lembro da infância e de como era protegida. Agora, crascida, sei que muitos não têm um terço do que tive. Saber disso dói tanto quanto ver aquela cena de indiferença.
Me levanto e ofereço a assento pra garota. Ela aceita ainda inespreciva e não sabe dizer obrigada. Não há um sorriso, nem mesmo um voto de confiança por mim. Somente senta e espera chegar o ponto de descer. A mãe nem percebe quando isso acontece. Talvez nem percebesse que é muito imcômodo pruma pequena criatura passar por testes físicos como andar de ônibus em pé.
Passamos por cima dos sentimentos e necessidades dos outros muito preocupados com o que queremos e o que é supostamente melhor para nós. Tudo nós, somente nós. "Eu, Mim".
soundtrack#1 All Is Full of Love Björk
programa: TVE Brasil em parceria com o Instituto Interamericano del Niño exibe uma série de sete vídeos para a promoção dos direitos das crianças. Nas vozes de Gilberto Gil, Fernanda Takai, Luiz Melodia, o coral "As Princesas de Petrópolis", Bruno Golvêia, Margareth Meneses, Joyce, Jorge Vercílio e Ná Ozétti as animações ganham vida e um poder incrível de significado. As animações podem ser vistas pelo site do programa ou durante a programação da TVE.
trilha#2Eu Quero AprenderFernanda Takai

domingo, dezembro 03, 2006


Estamira


Quantas vezes já parou pra pensar no controle remoto superior? Esse trocadilho, essa esperteza ao contrário? Quantas vezes se perguntou sobre esse seu Deus? Já reparou no lixo que você joga no lixo?
Seria difícil reproduzir com tamanha voracidade sua filosofia e ódio pela podridão humana. Muito mais esclarecida que muita gente e muito mais inteligente que muito doutor. Não é rica, não é bem compreendida, mas se diz feliz. E com razão, pelo simples fato de não ter de se submeter a essa "esperteza ao contrário" se sente em paz. Paz relativa essa, pois a cada momento é uma briga, uma explosão de revolta contra tanta desgraça no mundo. Os astros a protegem.
Áh Estamira, bela Estamira.


["Estamira", Brasil, 2005]

*tímpanos O Céu, o Sol e o Mar Mombojó

terça-feira, novembro 28, 2006

cine femme I

Com o espírito bastante femiminino, alguns filmes para quem goste. Os últimos que assisti.
Pão e Tulipas
[Pane e Tulipani, IT/FRA, 2000]
_
Rosalba é dona de casa numa pequena cidade na Itália. Ela viaja com a família muma excursão de ônibus, mas numa parada num restaurante é esquecida pelo marido e os filhos. Ali ela decide voltar para casa de carona, já que o marido não voltará para buscá-la. No meio do caminho resolve conhecer Veneza, a cidade de seus sonhos. Lá faz alguns amigos e arruma um trabalho, resolvendo tirar férias de casa. O marido desesperado por ter de lavar as próprias cuecas e não encontrar comida na mesa depois do trabalho, contrata um detetive para trazer de volta a esposa. Mal sabe ele que Rosalba está feliz e voltou até a tocar acordeon, seu instrumento de infância. Uma história singela e bonita com sutil humor. Uma dona de casa cansada de estar apagada pela família e casa que a consomem.
Sob o Sol de Toscana
[Under the Tuscan Sun, EUA, 2003]
_
Frances Mayes vive um pós divórcio conturbado. À beira da depressão e sem ânimo nem dinheiro é presenteada por uma amiga com uma viagem de 10 dias para Toscana, na Itália. Relutante, aceita. Chegando lá se distrai com tamanha beleza do lugar, as pessoas, os cinos das igrejas, os girassóis. Então resolve comprar uma casa velha, que encontra no meio do caminho, e morar lá. A partir daí sua vida começa a mudar. Amizades inesperadas e surpreendentes. Outro clima, outra cultura, outra língua. Tuda começa a reviver dentro de si e então a felicidade volta.

nervos de aço

Ainda não sei onde enfiar tanta preguiça. Com irritação por causa dos hormônios e frustração pela vida que estou levando. Ontem, ainda em tempo, alguns planos foram rascunhados. Hoje mais idéias me animaram e creio que em breve, muito em breve, vou sair desse marasmo e GANHAR O MUNDO!!! Tudo bem, nem tanto, mas se não tiver tanta pretenção é bem possível eu nem se quer sair do lugar...
Organização
Sabe quando você tem muitas preocupações na cabeça e isso começa a te irritar e você começa a se irritar também com as pessoas à sua volta? Deram o nome disso de STRESS, aportuguesado estresse. Doença do século globalizado e engolido pelo "tempo é dinheiro". É difícil ver alguém hoje em dia que nunca passou por uma crise de estresse. Há aqueles que ainda vão mais profundo chegando a derrames cerebrais ou depressões profundas. Não, não estou nesse estágio mas os músculos nos ombros reclamam diariamente por tanta tensão.
Cheguei em casa ontem e vi a casa revirada! Graças a Deus não foi um assalto ou um tufão, foi minha mãe. Ela simplesmente está mudando a maioria dos móveis de lugar e isso bagunça tudo, tu-do! Mas até aí tudo bem, o problema é quando a nossa ajuda é muito socilitada e isso para uma pessoa à beira de uma ataque de nervos é a gota d'água. Bom, creio que não é bem o meu caso, e isso até me surpreende. Meus nervos não se alteraram e levei na boa os chamados. Acho que minha tpm tá meio estranha hoje, rs. Aproveitei a arrumação pra arrumar minhas coisas também, assim pelo menos minha mãe viu que eu estava numa arrumação e me deixou em paz a maiorira do tempo.
Férias
Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias. Eu preciso de férias.
E ainda tenho provas e aulas até dia 15! Eu preciso de férias!
Filme
Por causa da bagunça da casa, do stress e do mundo globalizado.
EDUKATORS YOUR DAYS OF PLENTY ARE NUMBERED!

quarta-feira, novembro 22, 2006

conto do vigário

Bom, primeiro eu pensei em escrever ou transcrever um dos meus contos. Depois eu lembrei dessa expressão 'conto do vigário' e me perguntei de onde vinha isso e qual o significado original. Não consegui me responder e a pergunta foi perdendo força como são com as perguntas despretenciosas e irrelevantes, apesar d'eu ter algum interesse curioso nisso. Então com a palavra vigário me lembrei de alguns padres dos quais me fiz saber de suas vidas.

Padre Amaro
Este jovem e recém formado padre vai para uma cidadezinha de interior. Lá ele se encontra com uma sociedade conservadora e perfeita para o domínio católico. Com o poder de observação de um próprio interesseiro ele descobre altos e baixos do clero dali. Mas, como há interesses e deve-se zelar pelo bem clericano antes do bem da sociedade democrática, ele retém todo o novo conhecimento para si, talvez assim poderá usufruir de uma chantagenzinha se precisar?
Eis que o jovem começa a reparar numa bela moça muito católica e filantrópica que lhe serve o almoço todos os dias. É bonita, de uns 19 anos e ainda inocente demais para entender que padre é homem mas também é padre. Ente olhares furtivos e palavras estratégicas no ritual de acasalamento ele aderem ao movimento do amor livre, muito praticado nas sociedades hippies. Numa aconchegante casa semi abandonada têm maravilhosas e caliente aulas de religião amorosa. Tudo no mais completo sigilo. Até que um superior do moço descobre tudo e ameaça a denuncia ao bispo. A chantagem funciona. Passam-se meses de relacionamento extra-clerical e a garota descobre a gravidez. O desespero os acomete e a decisão é pelo aborto clandestino!!! Às 2 da madrugada, guiados por uma senhora do mundo inferior, vão ao destino mortal do bebê. Ela entra bem e sai com uma emorragia que não pára. Ele tenta leva-la a um hospital mas morre em seus braços.
Ele inventa para a cidade que o filho era do transviado namorado que a abandonou grávida. Celebra sua missa de despedida e continua padre. Mentindo para todos e até a si mesmo...
Santo Frei Malthus
Esse era amigo de um reporter de apaixonado por uma prostituta! Um cara da pesada. E ainda se martirizava por conta da paixão e do sapato da cinderela desde a noite do exorcismo. Quem é a amada? Ninguém menos que Hilda Furacão, o terror de Belo Horizonte nos anos cinquenta. E ele ainda se envolveu com o movimento comunista sendo preso diversas vezes sobe acusações de atos subversivos e coisas do tipo. Enquanto ela, que viveu a rotina da zona boêmia durante 5 anos e era também apaixonada pelo santo, sumiu do mapa depois de largar a vida de prostituta. A verdade é que ele é mesmo um santo e Deus estava fazendo de tudo para ele não se corromper. No dia em que o casal iria se encontrar para viver livremente seu amor, Frei Malthus é preso pelos militares. O encontro nunca aconteceu, mas creio que fora ali o amor mais bonito de um padre e uma mulher.

segunda-feira, novembro 20, 2006

agressividade

HOJE VAMOS FALAR SOBRE MODA!!

Você já ouviu falar sobre uma banda relativamente nova que está fazendo sucesso até no estrangeiro? Calma, eu falo o nome. 'Cansei de ser sexy'. Permitam-me um comentário, puts que parildas! O trem é ruim de com força! E conheço uma pá de gente que gosta disso... Vai entender?

Entre as modas não posso deixar de citar algumas coisinhas:
Sabe o calor de verão quando faz-se 35 graus, e você se encontra em tal situação, a maiorira delas em lugares públicos e debaixo do sol, que o seu maior desejo é de tirar toda aquela roupa e ficar curtindo um nu refrescante debaixo de uma sombra de árvore? Áh, se estiver dizendo que não tem vontade de fazer isso é um puta mentiroso! E então você olha para todos os lados à procura de não sei o quê para aliviar aquela sensação e adivinha o vê? Puts! Pessoas de preto, coturno, cabelos tampando toda a ventilação possível nos lugares mais quentes, assim como a nuca. Então você olha para aquelas pessoas que passariam um ótimo inverno ou outono vestindo tais roupas e simplesmente sente mais calor! Dá pra imaginar? É um terror psicológico. Àh........

Mas no fim, à tarde, por que ainda estamos em tempos molhados, cái daquelas chuvinhas gostosas e você finalmente se refresca. Ô delícia. Eis a recompensa.

sexta-feira, novembro 17, 2006

questão

por que o tubarão não abraçou a baleia?

por que ninguém filmou.

algo passa

o que é isso que me afeta?
o que me ocorre?
o que me passa, ãh?

onde não se toca
onde não se ouve
onde não se cheira
onde se sente muito

algo infinito
indefinido
incorrigível
inteligível

um embrulho estomaco
dor incéfala
pouca fluencia vascular
fotosensibilidade

algo passa
algo me intristece
e me torna assim,
distante até de mim.

terça-feira, novembro 14, 2006

interrogativa

foto Mariana QLima
chega de citações
de referências
será que ninguém faz algo novo?
não se pode inventar?
trocar as bolas da vez
parecer louco
falar bobagem
mas só pra não dizer
o que todo mundo diz?
será que tá tudo inventado
num tem ninguém criativo por aí?

o que você está fazendo?
pode variar de página
de vida
de olhar
de fala
escreva o que nunca escreveu
diga a sua opinião
não tente omiti-la
pois ficará mais evidente
o quão parcial pode ser

pode por favor ser alguém autêntico?
falar do que pode ser um dia
em vez de falar somente do que já foi
poderia sonhar mais?
criar futuros pros personagens
colorir a lápis esse painel
encher de chocolate as lacunas
tomar banho de banheira com muita espuma
tomar refrigerante de canudinho no formato do mickey?

pode por favor comer a nova marca de biscoito
sem dizer que aquilo é plágio?
pode parar de comparar um pouco as pessoas?
pode parar pra ouvi-las a voz?
pode por gentileza tirar os pés da mesa
e limpar a sola na soleira?

pode às vezes pedir por favor
e agradecer no final?
sorrir como se o dia estivesse claro
e você encontrado um lindo amor?
poderia tomar água num copo de vinho?
pode falar por si só?
pelo menos uma vez na vida!?!


pode falar por si só??
ou um dó mi lá sol...
mas pelo menos canta a tua fala pra ficar mais bonito.


...

escapuliu.
se te machuco vê se estanque o nó da gravata.
mas pode por favor sair de perto?

segunda-feira, novembro 13, 2006

volver


Eu, particularmente, claro, não tinha muito o que perder saindo de casa. A não ser a saúde que estava um pouco teimosa de melhorar. No sábado depois de todas as coisas possíveis acontecerem no meu esgotarem dia aceitei um convite pro cinema. Fomos cinco no carro. Um casal, dois antigos colegas de infância e uma louca no volante. Ninguém sabia qual filme ver, e isso pra mim era quase [veja bem, quase!] um absurdo, afinal assistir um filme no cinema é todo um ritual e isso precisa ser valorizado e respeitado! Mas fui como se aquilo tudo resultasse numa grande pizza ou picanha numa mesa qualquer.
Chegamos e o filme foi escolhido! Não era o que eu queria, mas o acaso foi meu amigo!!! Minha irmã não pode nem se quer comprar o ingresso para o tal filme por ser menor de idade. Então adivinha o filme, que para minha surpresa estava em exibição, fomos degustar? Ahá! VOLVER, a mais nova de Almodóvar.
Mais uma história desconsertante e envolvente. Mais cores vivas e fabulosas. As músicas...
Tia Paula morre. Sole tem medo de fantasmas mas sua mãe, morta, lhe aparece e quer sua ajuda. Raimunda resolve os problemas de todos, mas ela mesma está cheia deles. A pequena Paula está crescendo. Augustina tem câncer. Mulheres resolvendo suas vidas. E mal têm tempo de chorarem nos ombros umas das outras. E ainda assim conseguem ficar relativamente bem.
A pitada de humor é incrível. Os óculos de Tia Paula e a assombração da mãe de Sole e Raimunda. As roupas extravagantes e o estilo quase Marilda de Penélope Cruz. Cada olhar, cada lágrima ou risada. Tudo posto em seu melhor ângulo, em seu melhor tempo. Tudo é bom, talvez perfeito.
E para completar essa sensação talvez rever Hable con Ella. Mas não hoje... ainda não.
para ouvir...
*Volver - Estrella Morente

sexta-feira, novembro 03, 2006

conto

foto Mariana QLima

Era só mais um encontro. Desses que se discuti planos e nostalgia. Bebe-se uma cerveja e ri de bobeira. Era pra ser só mais um encontro.
Estávamos em quatro na mesa. Bom, primeiro em quatro com um estranho, depois com quatro de nós mesmos. Eu falava do futuro, de novidades com todo meu fôlego entusiástico. Buli também dizia de suas expectativas e toda a animação desde o último encontro. O Primeiro só ouvia. O Estranho palpitava no que achava que devia. Tínhamos ideias de coisas maravilhosas. E falávamos, e falávamos.
O Primeiro meio sem jeito, e ainda esperando a chegada do Segundo, começou a falar. No começo foi meio vacilante e receoso. Mas foi desenvolvendo as ideias e conclusões. Nada tinha a perguntar ou questionar, somente mesmo o que veio a dizer. Cansado de esperar e sem medo ou paciência disse que estava tudo terminado. Ao menos pra ele. Estava fora. Explicou os motivos e pronto! Estava fora finalmente. Assim como havia planejado e decidido há meses, antes do grande show.
Não pude compreender por que disse isso tudo somente agora. Eu era nova no grupo e com toda minha energia possível. Mas nem mesmo a Buli que era velha entre tais pode entender quão repentina e imprevisível decisão. Como um tapa em meu rosto, um susto, uma decepção, em trem de doido! Todos os meus planos foram por água abaixo e num pude fazer nada.
A cerveja degelando molhava os guardanapos ao pé da garrafa. Numa pequena travessa de aço inox barato, dois pastéis de 4 por 4 cm nos assistiam em cima de toalhas de papel encharcadas de gordura. Deviam estar frios, pareciam estar placidamente frios. Confinados a esperar um estômago inquieto ou a limpeza da cozinha. Sua gordura coagulada pela superfície dava um ar de pesado, como se quem os deveria ter comido não fosse vivo mais. Eram passado. Frio e cinza.
Minha garganta estava seca. Mesmo depois de um suco, mas mais depois do tapa. Peço um outro suco e coloco bastante açúcar. A garganta seca reclama e vacila. A batata chega e já minha boca, antes sem lugar e palavras, se ocupa. Como, e de nervoso assalgo!
Em instantes o Estranho ainda na mesa se decidiu ir-se embora, depois de muito discutir sobre direitos autorais e registro de material. Foi-se e então nosso momento de cumplicidade tomou-se.
Num instante, tão surpreendente, aparece-nos à porta o Segundo. Sim, talvez aquela ponta de salvação possa fazer parte ainda deste dia! Ele se senta, e eu cá com todo um esquema de nova vida a dizer. Explico sem espera-lo respirar muito. Digo da nova situação e sem demora já exponho nosso destino. Destino por mim desenhado e ainda em estado de formação. Espero resposta. Olho em seus olhos e ele com aquele sorriso amarelo. Seria mais fácil se tivesse chegado antes. Seria mais fácil uma conversa só. Não sei o que passa por aquela cabeça. Não consigo prever a resposta apesar de minha sabedoria dizer-me o que vai acontecer.
foto Mariana QLima
A travessa de batata me faz lembrar os pastéis. Em cima de um guardanapo engordurado reside a última batata. O fundo forrado de sal reflete um fosco brilho da luz do bar. Meu suco de popa de morango está pela metade. Todo o açúcar que pus não me resolveu. A boca continua inquieta. A mesa, sem toalha, está tomada de poças d'água. Uma garrafa nova de cerveja toma conta da molhança. Brinco com um guardanapo tentando enxugar a superfície. Ele se desfaz entre meus dedos e sou obrigada a juntá-lo a um canto central na mesa perto da travessa de batatas. Agora não há mais batata. Foi para dentro do Segundo que chegou ainda há pouco.

Ele ainda sorri e na verdade pensa no que dizer. O assunto se desvia e anda meio torto por segundo vagarosos. Alguma descontração é instalada pela força. Um zoa. Outro ri. Meu riso nem sei mais quer cor tem. Faço de novo a pergunta anterior. Digo minha proposta de solução. Quase começo a devagar possibilidades, mas antes de minhas veias subirem pela positiva exaltação ele solta suas palavras. E agora sim, é como se eu estivesse tonta e fosse cair por nocout. O Segundo com a voz pausadamente, e escolhendo as palavras para parecer óbvia sua decisão e postura quanto ao caso, diz. Diz que seus horários vãos mudar e que menos tempo terá para se dedicar às nossas atividades. Desiste de continuar mesmo antes de sentir a perda. Talvez já soubesse.
Oras, e num foi pelo mesmo motivo que o Primeiro saiu da banda? Tenho aqui pra mim que o Segundo saiu mais pelo fato de estar sem o Primeiro entre nós do que por outros motivos.
Meus olhos não sabem pra onde olhar. Um cansaço repentino toma conta de meus movimentos agora lentos. Esforço todo em vão. Planos todos em vão. É como se não tivesse mais sentido ficar ali e olhar aqueles rostos lavados e tranquilos. Um breve pensamento de fuga me passa pela mente e quase menciono minha partida da noite. Mas minha língua não deixa. Não sei o que dizer. Não quero ir embora. Ainda sinto uma união entre nós. Como se eu pudesse falar sobre coisas que nunca poderia com outros. Mas é só sensação por que nunca me senti tão à vontade assim. Ao mesmo tempo em que tenho a perda um novo sentido de liberdade me toma. É pequeno, quase minúsculo, mas existe.
Depois de tamanha estupefação um último pacto foi feito entre nós quatro. E quem sabe ainda nos reuniremos? Pode ser que assim seja o destino destes quatro amigos. Tanto quanto poderá ser de nunca mais tocarmos juntos.

A conversa foi se virando e revirando. Uns diziam do passado íntimo, outros falavam do acaso. A nostalgia e o prazer fugaz do último show foi relembrado e criticado em todos seus aspectos e detalhes. Ali sentavam não mais pessoas com elos profissionais, mas sim quatro descompromissados amigos de primavera. Aqueles com os quais talvez nunca mais encontrarás nas mesmas condições, mas um abraço darão e juntos relembrarão desses tempos. Esses tempos que por mais sacrificados sejam para uns, foi de grande agrado para todos.
A noite foi se embrenhando pelas horas. Meus olhos foram pesando e o corpo comportava-se tonto. Fomos embora. Os quatro juntos. Pela última vez naquele carro apertado.
Nos despedimos e pronto. Foi só isso que aconteceu. Mais nada.

quarta-feira, novembro 01, 2006

candomblé e fotografia


Pierre Verger: Mensageiro entre Dois Mundos

Assisti. Não sei se é um filme sobre fotografia, sobre o fotógrafo ou a respeito do candomblé. Sobre tudo um pouco, resumo e atesto. Fatumbi era um curioso da cultura negra e um curioso respeitado. Futucou e se adentrou no candomblé como provavelmente nenhum outro branco conseguiu fazer. Conviveu com personalidades importantes religiosas da Bahia e dum lugar da África que se situa no Golfo de Benin. Foi iniciado e estabelecido na crença. Detinha outro nome e outro significado. Era amigo de reis e babalaôs e babalorixás. Sempre empunhando sua máquina fotográfica registrava deuses e pessoas. Uma figura!

O filme é apresentado e narrado por Gilberto Gil. Trilha de Naná Vasconcelos. E uma ótima fotografia. Não podia sair ruim nem que algo trágico acontecesse com algum destes.

Aprende-se mais sobre o candomblé do que em qualquer outro meio. Será? Acho
que o espanto é todo meu, e só meu. Nunca me deparei com tamanha significância e nomes tão poeticamente fonados. Sempre fui na verdade encantada com esses negros sorridentes e coloridos. Não aquele sentimento de dó ou pena pela escravidão. Não aquele sentimento de culpa racial por eu ser pelas vias da vida de cor clara. Não. Há algo naquele povo que me encanta e me abre a boca. Essa maneira de se deixar pela alegria e não se entristecer por pouco. Por aqui não há muitos desses. Aqui a mistura é muito maior que se pode ver em outros lugares. Aqui não há mais cor, de tantas existir. Na Bahia ainda há muito negro e descendente direto do candomblé. Uma de minhas curiosidades. Esse tal de pelourinho e acarajé. Nunca fui à Bahia e sei que quando for é provável do meu estômago não aguentar tanta pimenta! Mas ainda vou. Assim como a Moçambique e talvez algum outro lugar. Não sei.

Parece que esse crer está a me seguir nos últimos tempos. Veja que quando aluguei o filme foi com o interesse pelo fotógrafo e não pelo assunto das fotografias em si. Ao ler a revista Piauí me deparei com uma curta reportagem sobre as baianas evangélicas em porta de igrejas evangélicas vendendo o "acarajé de Jesus". As baianas, aquelas com bata e saião, típicas vestimentas do sagrado, reclamam de tamanha intromissão na profissão, "se o acarajé delas é de Jesus, o nosso então só pode ser do demo?!". Há uma espécie de sindicato das baianas, a Associação das Baianas de Acarajé e Mingau, e ele determina e delimita as condições para a venda do acarajé. É preciso usar as roupas, colares e lenço na cabeça de acordo como a religião rege a regra. O que acontece é que em Salvador há 5 mil pessoas fazendo acarajé e somente 450 são registradas e em dia com a lei. Então entre elas há uma regra, as evangélicas que vendam seus acarajés de Jesus na porta de suas igrejas para crentes que crêem num Deus e comem comida de outro e as 'verdadeiras' baianas vendem no pelourinho. Uma das matérias mais interessantes que nos últimos tempos. Inusitada e descompromissada.

Ainda me lembro de uma colega de escola. Neta de libanês e com toda a genética para comprovar isso sempre dizia que "queira ter nascido negra". Uma das poucas pessoas que em toda minha vida eu vi pronunciar tais palavras [ a não ser um filho de japonês que era da minha sala e tinha amigos do funk ]. Um dia fomos com a escola numa exposição no Palácio das Artes sobre a cultura africanas. Vestimentas, objetos de guerra e de senzala. Fotos [muitas que deviam ser do Verger ] de indumentarias enormes africanas e pessoas e mais pessoas. Eu via seus olhos brilharem ao ver tais. Pronunciava nomes a mim desconhecidos. Nomes de deuses, espíritos, objetos. Era tudo muito diferente para mim, mas muito triste. A maioria, talvez metade das coisas, eram remetentes ao tráfico negreiro e toda a crueldade da prática. Mas fora isso, o candomblé ainda me incitava a imaginação e atestava minha ignorância.

quinta-feira, outubro 26, 2006

cinema, sentimentalidades? e pombas, não urubus!

Quando fiz este novo blog [diga-se de passagem bem passageira, é o terceiro da série] imaginei-me postando somente sentimentalidades poéticas, cheias de drama e corações dilacerados ou coisa parecida. Mas vejam só que minha alma pseudo-jornalística e crítica em essência não me deixaram nem deleitar-me lentamente com tamanha pretensão. Pretensão apenas pois eu nunca poderia entregar-me assim somente a esses assuntos sentimentais. Oras, iria definhar-me e o resto seria mesmo só história. Pronto, chega de drama barato e cafona de minha parte. Tenho vontade de escrever sobre tudo e todos! Entretanto não sei bem se esta energia toda vai durar muito tempo... aiai! rs. E creio que no final de tudo, e ainda bem em breve, estarei de volta às minhas sentimentalidades.

cinema não, vídeo!
Recebi num dia desse no meu e-mail que quase não olho [aliás, quem num tem um desses?] um pequeno vídeo com os seguintes dizeres de acompanhamento: "achei lindo de morrer! essa menininha é uma gracinha!!!". Tudo bem, poderia ser qualquer coisa besta, daquelas que um amigo manda só de sacanagem e você tem que abrir se não morre de curiosidade. Mas talvez isso não tenha passado pela minha cabeça porque o remetente não costuma me mandar coisas desse gênero besta brincalhão. Abri. Esperei baixar o vídeo. Coloquei pra rodar. Nossa! Uma menininha japonesinha cantando uma música também em japonês. A coisa mais linda dos últimos tempos vindas da internet. E agora, depois de vários comentários mútuos com a tal remetente do e-mail, ela me manda o resto do vídeo que está disponível no you tube. Gracinha demais!! rs....

pombas
Você sabia que a época de reprodução das aves, ou da maioria delas, é de agosto a dezembro??? Pois é! E como toda boa cidade histórica [com a incrível exceção de Diamantina, que segundo meus olhos observadores não foi registrado nenhum vestígio pomboresco pelas ruas ou ruelas de pedra e nem embaixo de qualquer marquise ou estruturas telhadescas de igrejas e casas históricas] é apinhada de pombas, o reboliço das danças e rituais de acasalamento é grande por essas bandas. Mas não são somente as pombas, há serviço para muitas passarinhas na construção de seus ninhos. Gravetos, folhas secas, que nessa época abundam, são bem cotados na bolsa de valores aviária. Há também aqueles espertinho que ficam sempre à espreita para roubarem os ninhos dos outros, mas isso não vem ao caso. Os cânticos acasalásticos e barulho de engenharia ninhástica tomam contas das manhãs, lá por volta de seis e meia da matina. Neste horário normalmente já estou a caminho da faculdade ou, no caso de final de semana, dormiiiiiindo. Eis 'lo milagro de la vida!'. Apesar de todo o barulho chato em alguns momentos... rs

terça-feira, outubro 17, 2006

afinal, vida é cheia de fases, não?
talvez esteja eu entrando em uma nova.

mas vou saber somente daqui pra frente.

sempre em frente... e tão somente.

;^)