sábado, maio 23, 2009

Critica de "O homem que conhecia as mulheres"

Por Peco Ferger


É um livro completamente diferente de tudo que eu já li. O caleidoscópio do caos. Além da linguagem objetiva, bem sensual de Marcelo Rubens Paiva que eu conheço por "Feliz ano velho", "Bala na agulha" e "Blecaute", a história se divide em diversas crônicas, uma completando a outra. Abusando de palavras de baixo calão e que muitas vezes descamba para a putaria generalizada, o autor manteve ao longo das histórias uma sensualidade curta, objetiva e veloz, adicionando ao livro aqueles ingredientes que prendem o leitor do início ao fim.

Assim que comecei a leitura, já queria saber quem era esse homem que conhecia as mulheres. Imaginei-me em uma festa e, na medida que fui entrando, pessoas foram se aproximando e se apresentando, formalmente. Eram todas mulheres. Cada uma com seu perfil, algumas sozinhas, outras acompanhadas por outras mulheres. Ouvi histórias, entendi e desentendi problemas, aflições e medos até que, chegando ao balcão e pedindo uma bebida, conheci o homem. Ao final de tudo, saí por uma porta onde vi a cidade de São Paulo ao fundo, contornando toda a beleza existente e tornando tudo mais fácil de admirar naquele antro de coisas ruins.

Resumindo, o livro é quase que uma festa. Há frequentadores de todos os tipos, histórias e diálogos para, no fim, chegar ao ponto-chave que é o homem que, de tanto conhecer as mulheres, perdeu o encanto por elas. Segundo ele, porque o encanto nada mais é que o mistério. Realmente! Você ficaria com alguém com quem não pudesse mais se surpreender?

Dentre as tantas histórias, não poderia faltar altas doses de humor. Coisas corriqueiras, cheias de ironias e críticas sociais nos fazem quase que imaginar o próprio autor em uma roda de bar, a contar os dizeres. Dentre os pontos altos, pude rir muito em meio à um diálogo:

A atendente de telemarketing ligou para o cara:
- Por favor, ajude a casa tal a sustentar o Jonas. Você pode doar 50, 100 ou 200 reais e o menino ficará feliz com sua doação. Ele tem fome.
O cara respondeu:
- Dá um biscoito pra ele.


Enfim, em meio a desgastes loucos, relações tortas, injustiças com graça e uma declaração de amor à cidade de São Paulo, o livro é imperdível. E nem pense em usá-lo para conhecer as mulheres. É fria. Isso, nem ouvindo as músicas do Chico.


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Peco Ferger é amante da literatura e escreve poesias nos momentos de inspiração. Ainda não tem um blog, mas terá em breve, colocando no ar outros pensamentos e devaneios. A meu convite, escreveu essa crítica especialmente pro Na Divisa.

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