sexta-feira, julho 03, 2009

No silêncio, milhões de coisas se passam


Ele

No quarto escuro, quase não havia vida. Ele esperava impaciente que alguma luz se acendesse, senão aquela na qual instalara em seu móvel. Queria que fosse uma luz dentro da alma, algo que o fizesse irromper aquele cubículo dentro de si mesmo e partir em direção a uma coisa que
o fizesse feliz.

Ele queria algo que o abrilhantasse. Porém, mal sabia que o brilho é próprio. Que, enquanto você pensa que o mundo melhorou por causa de alguém, nada mais é que você mesmo quem mudou de postura.

Enquanto não aprende, ele espera. E não há luz que se acenda senão o letreiro luminoso do bar em frente. Que pisca e o faz querer que se apague. Que suma. Que seja algo senão aquela solidão que ele sente. Apenas isso. Que não seja a solidão.

Mas nada acontece. Só a chuva que começa a cair e molha os vidros da janela onde ele se posta. E ele se recolhe à cama, sem novidades, sem nada mais esperar. Apenas com aquela vazia sensação de que amanhã tudo será como hoje: Um vazio que ele mal pode aguentar.


Ela

Na rua, ela vê os carros passarem. Passam rápido e ela parada pensando nas tantas vidas e rostos felizes que estão lá dentro. Que saem dos bares, das festas. Queria estar em algum desses lugares. Ter no rosto a felicidade sem saber que os rostos felizes carrega em si a tristeza de não sentir verdadeiramente a felicidade.

Olha o céu esperando ver algo diferente. Algo se movendo, caindo, algo surpreendente. Mas nem as estrelas. As luzes em volta ofuscam seu brilho. Ofuscam até seu desejo de se sentir melhor. Se são elas que te trazem o vazio.

Fecha os olhos. Para que os postes não possam mais te atingir. O vento que começa a soprar trazendo a chuva percorre seus cabelos soltos. Um arrepio lhe passa pela nuca nesse instante.

Subitamente abre os olhos e avista ao longe uma janela aberta e um vulto debruçado nela. A luz do letreiro do bar da frente da janela acende a apaga as feições do rapaz sem camisa. Seu olhar perdido chama tanto a sua atenção que logo não se sente mais tão só. Encontrou um rosto sem sorriso. Por isso mesmo foi que sorriu. Mas, por dentro. Apenas por dentro.

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Este texto foi escrito em parceira com Peco Ferger.
O crédito da foto é de Mariana Lima.

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei o texto. Estou sempre te visitando... Se der e caso interesse visite o meu blog também:
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Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.