quarta-feira, março 05, 2008

fome tropical

Andei saciando uma fome antiga, aquela tropicalista. E eu que nem sabia que tinha, descobri há uns bons tempos quando me revelaram o nome para aquilo tudo que ouvia desde criança. Já sabia que era fã de Gilberto Gil e que Caetano era pai de canções lindas que já permeavam meu inconsciente. Então a ficha caiu que isso tudo era tropicalista. No meu intenso verão tropical interior, eis que tenho em mãos material suficiente para entender melhor o que foi aquilo tudo, aquilo tudo que sempre me tocou profundamente e tão simplesmente. Convido-os a conhecer o Tropicalismo, e meus ídolos de sempre.

Mas, antes ainda da degustação indicativa, umas palavras. Ao meu entender, e olha cá que não sou estudiosa do caso, nem profunda conhecedora. Direi somente o que sinto, o que para mim é a mais importante interpretação de uma obra. Não sou crítica e desde já não tenho essa pretensão, apesar de talvez lá em certo momento da vida possa a mim surgir esse rótulo.

O Tropicalismo para mim significa a vontade de incomodar, inda mais pela época em que surgiu. Serve para o questionamento, uma pergunta sem resposta redonda, de onde podem sair outras várias perguntas. Textos sem nexo e uma musicalidade que pode ser maravilhosamente redonda quanto cheia de quinas e nada agradável. Cores fortes ou insossas, curvas insinuantes. Nus artísticos e promíscuos. Cabelos sem penteado e o simples sentido de ser, sem parecer com outros, apesar de suas influencias por aí... e que digamos a verdade! Não há na história da humanidade algo simplesmente inventada do nada, tudo é fruto de épocas, e de tudo à sua volta. Tropicalismo pode ser a total loucura, como a mais intensa compreensão das coisas, uma maturidade para além das performances infantis. Uma despreocupação com a estética tradicional, uma nova estética, mas mais relaxada, mais pela diversão do que pela perfeição.

Tropicalismo é ser mutante, ser á-gil e veloso, inventando-se sem sair do tom, e rugindo como um leão!


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Para aqueles que não entendem, não conhecem, nunca ouviram... uns poucos discos:

.'Tropicália ou Panis et Circencis' - Mutantes - 1968
.'Caetano Veloso' - Caetano Veloso - 1968
.'Expresso 2222' - Gilberto Gil - 1972
.'Transa' - Caetano Veloso - 1972
.'Gal Costa' - Gal Costa - 1969
.'Tom Zé' - Tom Zé - 1970
.'A Banda Tropicalista do Duprat' - Rogério Duprat - 1968
.'Doces Barbaros' - Gil, Caetano, Gal e Bethania

Recomendo baixar pelo ótimo 4shared .
Outras muitas coisas sobre o movimento, sobre as pessoas, a época e o resto, visite a Tropicália.

Um comentário:

Carlos Howes disse...

Uma vez um amigo meu me emprestou um livro biografia dos Mutantes, chamado "Divina Comédia", de Carlos Calado, que contava um pouco da história do Tropicalismo... dos principais artistas, músicas, discos e o seu contexto histórico na época. Confesso que depois de ler esse livro, passei a ver o tropicalismo com outros olhos.

Eu sou suspeito para falar. Sempre gostei muito desse pessoal todo, especialmente dos Mutantes.