quarta-feira, outubro 24, 2007

crônica 'natureza morta'

Me sento num lugar privilegiado, então posso ver a maioria das pessoas que passam. Um cara gordo com uma expressão não muito animadora está sentado sozinho numa mesa redonda tomando um chopp. Sua figura é tão solitária que chego a pensar se ele está tão igual a mim observando os outros ou está mesmo pensando na vida, ou não tem o que fazer, ou sei lá. É alto e o rosto esta num aspecto de muito cansado, seus movimentos são lentos e contemplativos. Chego a ter um pouco de medo a respeito do que pensa, pra onde olha e pra quem dirige este olhar. O que faz ali naquele horário que não está trabalhando ou mesmo almoçando. Eu estou almoçando. Como muito tranquila sozinha no meu canto, assim como a maioria ali, apressados, calmos, de todos os jeitos. Mas esse homem bebe um copo de 500 ml de chopp sozinho, ao meio dia, numa terça-feira, num shopping relativamente movimentado. O que o traz aqui? Por que está sozinho? É aposentado? Está de folga? Sofre de alguma doença respiratória ou cardíaca? Por que me chama a atenção?? Por que quando olho pra ele chego até a pensar se é feliz ou não? Parece um homem frustrado em todos os âmbitos da vida, amorosamente, no trabalho e no futebol. É gordo, deve ter uns 50 anos e relaxado. Roupas de classe média mediana. Os hábitos não posso avaliar, se fica ali assentado o tempo todo. Mas o que passa por aquela cabeça? No que pensa? Por que, ãh?

3 comentários:

Amanda Beatriz disse...

é interessante observar as pessoas e tentar adivinhar o que elas pensam. normalmente me pergunto se elas se sentem tão sozinhas e deslocadas como eu.
beijos!

Jaya Magalhães disse...

Às vezes sentava numa arquibancada lá na praça, com uma amiga, e a gente começava a inventar uma história de vida para cada pessoa que passava caminhando, apenas de olhar, apenas pela roupa, pelo olhar, pelo andar... Essa curiosidade acerca das complexidades alheias são tão hipnotizantes, não?

Agora, pra poder responder a todos os teus questionamentos, só sendo algum mutante. Rs.

Beijo, Marianaaaaa!
=*

Carlos Howes disse...

Já dizia uma música do autoramas: "Eu queria poder conhecer, a história de vida de cada um". Cada um, com suas razões, seus sentimentos, seu dia-a-dia, suas preocupações, seus anseios, suas vidas. È algo grande, bonito, às vezes, intrigante.