segunda-feira, agosto 25, 2008

'Tiros em Ruanda' e toda a coisa do mundo

Então onde está aquela linha imaginária de respeito ao próximo? Me pergunto. Você se pergunta? E o humanismo, o credo, a ideologia, a identidade, a tradição... Mas o quê que é isso tudo?

Na verdade não sei por onde começar. Nesta manhã, assim meio desprevenida, assisti ao filme "Tiros em Ruanda". Trata-se do genocídio de 1994 em Ruanda, em que o povo Hutu massacrou Tutsis com facões a sangue frio, sem poupar viva alma. A ONU que tinha uma tropa considerável no olho do conflito preferiu se abster de qualquer responsabilidade e bater em retirada, deixando um povo inteiro à mercê do ódio. E isso foi há somente 14 anos! O nazismo e toda sua barbárie ninguém esquece. Por quê? Por serem brancos? Por terem morrido lentamente? Por quê os negros pobres de terceiro mundo não são lembrados?


E, por quê? Qual razão de ódio mortal naqueles dias? São tantas razões que desconheço e outras muitas que simplesmente não conseguiria descrever aqui. Meu lado aqui assistindo à história reproduzida por sobreviventes do massacre é tão distante de tudo isso. Não posso dizer nada além daquilo que leio em livros e vejo em filmes. E se não fossem tais meios de comunicação provavelmente não saberia de nada.

Quando estamos na escola estudamos e conversamos sobre a África um milhão de vezes. Na minha época foi assim. Sempre esbarrávamos nas questões humanitárias, sanitárias e econômicas. Entretanto nunca houve uma real delimitação teórica quanto ao território, o povo, e o tempo de que tanto discutíamos. Afinal, o que é a África? Onde fica? ... África é só o continente onde habitam mais de 800 milhões de pessoas em 53 países. Países que em suas histórias existem muitos conflitos étnicos brutais e pseudo-independências.

Aí vem uma pessoa e fala que temos de acabar com a fome na África e que é preciso conter a proliferação do HIV, mas logo está num shopping fazendo comprinhas tolas e comendo uma casquinha do Mc Donalds. Bem sei que fazer algo assim como civil sozinho é impossível, mas contribuir para as diferenças de classe e consequentemente à toda desgraceira do mundo é muito mais fácil. Basta consumir o quanto mais der conta. Eu mesma estou nesse grupo, mas tento todo dia sair do esquema.

Não quero culpar ninguém dizendo essas coisas, só mesmo externar aquele sentimento de revolta quando enxergamos por míseros segundos que há alguém realmente sofrendo enquanto há outro totalmente alheio a tudo isso. Me pergunto o que posso eu fazer. Alias, só consigo me perguntar isso. Não sei. Às vezes penso que é pela minha imaturidade, ou quem sabe minha impotência política, ou mesmo minha falta de vontade. Preguiça.

No fundo somos mesmo preguiçosos e egoístas. É a tal da história de identidade cultural que comentei no início. Essa enorme aldeia global nos pluralizou de uma forma muito nova e pouco assimilada ainda. Digo, sei que vêm a este blog pessoas de outros países, e que talvez sejam brasileiros espalhados pelo mundo. Mas por que sei isso? E como chegam aqui? Por que estamos interligados por um sistema de comunicação que permite essa troca de informações. Dessa forma é fácil saber em minutos de uma guerra que acabou de acontecer do outro lado do mundo. Em Ruanda não existia isso e ainda em muitos locais do continente africano nem sabem o que é um bom sistema telefônico...

E nessa aldeia mundial, enorme como ela só, a quem nos apegamos nas horas difíceis? Aos compatriotas? À família... aos amigos de Internet? Cada vez mais percebo uma falta terrível de identidade, de unidade civil, social. Mas somos ocidentais e em desenvolvimento, não somos a única realidade do mundo. O continente africano quando dividiu seus territórios, em acordos políticos, se esqueceram das etnias e de suas rivalidades. Por isso de tantas guerras civis, tanto ódio e desrespeito. Mas se resumisse a somente isso ainda teria uma esperança de resolver as coisas mais facilmente. Era só redividir os territórios... Mas a história, meus caros, é muito mais complicada. Me faz pensar também que se estivéssemos em guerra por aqui de que lado eu estaria...

Para terminar essa minha verborragia, digo que não me isento de qualquer responsabilidade que me couber como uma jovem cidadã brasileira. O que em tempos de paz pode significar nada. Mas me sinto cada vez mais perdida no espaço sem me identificar com nada nem lugar nenhum além de específicas pessoas a quem dedico amor. E por fim, se a quem leu isso aqui for de alguma valia...

3 comentários:

Carlos Howes disse...

Puxa, dá uma sensação de impotência enorme, não dá? Eu não cheguei a assistir Hotel Ruanda, mas senti algo parecido quando assisti "Diamante de Sangue" e vi todo aquele banho de sangue na Serra Leoa.

Nós, da era da internet, nos acostumamos com globalização e integração, mas como você bem definiu, a realidade ali é outra. Faz nos sentirmos privilegiados.

Gostei do teu texto e teus paralelos.

Mário M. M. disse...

Recomendo Falcão negro em perigo, U.S.A tentando controlar
Mogadíscio Na Somália, um dos piores fiasco americanos, Hotel Ruanda e diamante de sangue muito bom, para que ainda não viu filme Nome = Idi amin , da para entender um pouco do que passa na bela Africa.

ótimo Blogger vou ficar intertido por dias.

Péricles Neto disse...

Muito bom...