terça-feira, março 17, 2009

Vida coletiva II - o garoto e a mãe

Com o balanço do coletivo, ainda antes da roleta, tentava tirar as moedas do bolso e da-las ao homem carrancudo que me olhava por de trás daquela bacadinha. Sempre fui um pouco desajeitada nessas situações. A mão gruda no bolso da calça, o olhar do homem me deixa nervosa, o balanço do ônibus... Mas consegui a quantia tal e passei a roleta.

Não havia lugar para se sentar. Nem era meio dia ainda e o veículo já estava relativamente cheio. Tudo bem, essa viajem era mais curta afinal. Encostei-me ali perto da roleta a deixar meu corpo pender sobre o corrimão vertical. Então reparei em dois passageiros ali perto.

Uma mulher, devia ter lá seus quase 50 anos, e um garoto, com lá seus 7 anos. Se não eram mãe e filho parentes bem próximos eram com certeza. Se pareciam muito, pelo pouco que vi, pois não se pode reparar por muito tempo nos detalhes alheios nessas ocasiões. Sempre desviamos o olhar em locais públicos quando percebem nossa observação. E não gostamos de ser observados! rs

No primeiro momento me deu até raiva aquele garoto ali sentado no lugar de uma pessoa que pagou a passagem. A mãe podia muito bem leva-lo no colo. Mas logo deixei de pensar nisso. Algo que me incomodou nos dois me fez querer ficar na posição de observadora apenas.

O garoto parecia cansado, e, presumo, talvez estivessem voltando do médico. Suas expressões não eram boas, nem leves, ou era somente de cansaço? Os olhos pesados da mãe faziam-na aparentar estar pesando uma tonelada. O olhar do menino era menos pesado, mais preocupado talvez. Com um ar de que carregava em si um grande fardo, mas fardo esse que não só era seu, mas grande parte da mãe.

Em certo momento ele recostou no colo da mulher. Assim como criança faz quando está cansadinha e quer um pouco de aconchego. A senhora, de braços semi-cruzados segurando sacolas, não se mexeu. A cabeça do garoto encima dos braços duros e mal posicionados e ela nem se mexeu. Mal olhou pro garoto.

Passaram alguns minutos e o garoto, decepcionado, levantou a cabeça e olhou a mãe com a mesma expressão pesada. Voltou a seu assento olhando pela janela o que passava de paisagem. Nem mesmo uma palavra trocaram enquanto pude observa-los. Nem meia.

Acho que não vale a pena levar tão a sério todo o peso da vida. Mesmo em dias difíceis.

2 comentários:

Roginho disse...

O que o garoto pode nos dizer sobre o peso da vida? Será que ele já na sua infância tem conhecimento disso? O grande problema da criança é que, ao contrário de adultos, ela não é tão capaz de esquecer rapidamente seus problemas... E a senhora ao lado da criança perdeu uma boa oportunidade de esquecer esse peso e doar-se para alguém que necessita dela.

Mau. disse...

"Somos nós quem colocamos o peso de nossa dor.."
O que dizer sobre o que não sabemos nomear? Se é dor, se é pesar, se é paixão.. Vai saber..