quarta-feira, novembro 01, 2006

candomblé e fotografia


Pierre Verger: Mensageiro entre Dois Mundos

Assisti. Não sei se é um filme sobre fotografia, sobre o fotógrafo ou a respeito do candomblé. Sobre tudo um pouco, resumo e atesto. Fatumbi era um curioso da cultura negra e um curioso respeitado. Futucou e se adentrou no candomblé como provavelmente nenhum outro branco conseguiu fazer. Conviveu com personalidades importantes religiosas da Bahia e dum lugar da África que se situa no Golfo de Benin. Foi iniciado e estabelecido na crença. Detinha outro nome e outro significado. Era amigo de reis e babalaôs e babalorixás. Sempre empunhando sua máquina fotográfica registrava deuses e pessoas. Uma figura!

O filme é apresentado e narrado por Gilberto Gil. Trilha de Naná Vasconcelos. E uma ótima fotografia. Não podia sair ruim nem que algo trágico acontecesse com algum destes.

Aprende-se mais sobre o candomblé do que em qualquer outro meio. Será? Acho
que o espanto é todo meu, e só meu. Nunca me deparei com tamanha significância e nomes tão poeticamente fonados. Sempre fui na verdade encantada com esses negros sorridentes e coloridos. Não aquele sentimento de dó ou pena pela escravidão. Não aquele sentimento de culpa racial por eu ser pelas vias da vida de cor clara. Não. Há algo naquele povo que me encanta e me abre a boca. Essa maneira de se deixar pela alegria e não se entristecer por pouco. Por aqui não há muitos desses. Aqui a mistura é muito maior que se pode ver em outros lugares. Aqui não há mais cor, de tantas existir. Na Bahia ainda há muito negro e descendente direto do candomblé. Uma de minhas curiosidades. Esse tal de pelourinho e acarajé. Nunca fui à Bahia e sei que quando for é provável do meu estômago não aguentar tanta pimenta! Mas ainda vou. Assim como a Moçambique e talvez algum outro lugar. Não sei.

Parece que esse crer está a me seguir nos últimos tempos. Veja que quando aluguei o filme foi com o interesse pelo fotógrafo e não pelo assunto das fotografias em si. Ao ler a revista Piauí me deparei com uma curta reportagem sobre as baianas evangélicas em porta de igrejas evangélicas vendendo o "acarajé de Jesus". As baianas, aquelas com bata e saião, típicas vestimentas do sagrado, reclamam de tamanha intromissão na profissão, "se o acarajé delas é de Jesus, o nosso então só pode ser do demo?!". Há uma espécie de sindicato das baianas, a Associação das Baianas de Acarajé e Mingau, e ele determina e delimita as condições para a venda do acarajé. É preciso usar as roupas, colares e lenço na cabeça de acordo como a religião rege a regra. O que acontece é que em Salvador há 5 mil pessoas fazendo acarajé e somente 450 são registradas e em dia com a lei. Então entre elas há uma regra, as evangélicas que vendam seus acarajés de Jesus na porta de suas igrejas para crentes que crêem num Deus e comem comida de outro e as 'verdadeiras' baianas vendem no pelourinho. Uma das matérias mais interessantes que nos últimos tempos. Inusitada e descompromissada.

Ainda me lembro de uma colega de escola. Neta de libanês e com toda a genética para comprovar isso sempre dizia que "queira ter nascido negra". Uma das poucas pessoas que em toda minha vida eu vi pronunciar tais palavras [ a não ser um filho de japonês que era da minha sala e tinha amigos do funk ]. Um dia fomos com a escola numa exposição no Palácio das Artes sobre a cultura africanas. Vestimentas, objetos de guerra e de senzala. Fotos [muitas que deviam ser do Verger ] de indumentarias enormes africanas e pessoas e mais pessoas. Eu via seus olhos brilharem ao ver tais. Pronunciava nomes a mim desconhecidos. Nomes de deuses, espíritos, objetos. Era tudo muito diferente para mim, mas muito triste. A maioria, talvez metade das coisas, eram remetentes ao tráfico negreiro e toda a crueldade da prática. Mas fora isso, o candomblé ainda me incitava a imaginação e atestava minha ignorância.

Um comentário:

Mariana Massarani disse...

Vi na semana passada!
Muito lindo!
Volver também!!!!
: )
Um beijo!